Líderes da Maranata praticavam espionagem contra membros e ex-fiéis
Provas são os documentos apreendidos pelo Ministério Público Estadual, que levaram a decretação da prisão de dez pessoas
Documentos apreendidos pelo Ministério Público Estadual (MPES) revelam que até espionagem era praticada pelos líderes da Igreja Cristã Maranata. As informações obtidas de forma clandestina, explicam os promotores do Grupo Especial de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), eram utilizadas contra membros da própria igreja, fiéis que deixaram a instituição e até contra testemunhas que estavam sendo ouvidas na investigação.
Segundo o promotor Paulo Panaro, as provas de espionagem foram apreendidas em março deste ano, nas casas e escritórios dos líderes da igreja. Além de dossiês de diversas pessoas, havia até documentos endereçados ao pastor Julio Cezar Costa – interventor da igreja –, referentes à compra de equipamentos de vigilância.
Processo
Provas como essa, além de outras, que segundo Panaro já fazem parte do processo, levaram a decretação da prisão de dez pessoas, entre elas o líder histórico da igreja, Gedelti Gueiros. Outras sete estão sujeitas a medidas cautelares, com restrições legais, como a entrega do passaporte. Outros dois vão responder ao processo em liberdade. Os detidos ontem foram levados para o Centro de Triagem de Viana.
A decisão é do juiz Ivan Costa Freitas, da 8ª Vara Criminal de Vitória. Ele aceitou a denúncia feita pelo MPES em maio deste ano. Com isto, todos os denunciados passam a condição de réus, respondendo a processo criminal pelos crimes de formação de quadrilha, estelionato, apropriação indébita e duplicata simulada (emissão de notas frias). O desvio de recursos do dízimo da Maranata pode chegar a R$ 30 milhões.
Para promover o desvio dos recursos doados pelos fiéis, uma verdadeira organização criminosa foi identificada atuando na Maranata, segundo denúncia do MPES já acatada pela Justiça. Lá os réus estabeleceram um engenhoso esquema de desvio de doações, dízimos e contribuições oferecidas pelos fiéis, em benefício próprio.
Eles se valiam, segundo a denúncia, da criação de empresas e até da emissão de notas superfaturadas. Até carros de luxo teriam sido comprados pela igreja, mas usados por membros da diretoria. Sem contar imóveis que teriam sido transferidos para o nome de Gedelti Gueiros. Fato que o juiz pede para ser mais bem analisado.
Em sua decisão o juiz pontua que as provas anexadas ao processo revelam a “existência de uma sofisticada organização criminosa estruturada profissionalmente, de forma estável e permanente”.
Destaca ainda o juiz que no processo “há indícios de conduta de extrema gravidade”, ao citar as ameaças feitas a um promotor, uma juíza e a testemunhas ouvidas no processo. Fato que chegaram a resultar na prisão de pastores, em março deste ano, inclusive do próprio Gedelti.
Defesa
Pela manhã, logo após ser preso em sua casa, Gedelti alegou desconhecer o motivo de sua prisão. “Não sei por que estou sendo preso. Ninguém me disse nada”, assinalou. Na denúncia acatada pela Justiça, o MPES afirma que Gedelti, mesmo afastado da presidência, continuava “mandando e desmandando na igreja”. Descumpria até decisões da Justiça, como a proibição de se reunir no Presbitério de Vila Velha e maanains.
Esquema
A articulação entre os líderes presos era tão grande, segundo o juiz, que eles viabilizaram junto ao interventor Julio Cezar Costa, o retorno de um dos denunciados – Amadeu Lopes – para a administração da igreja.
Dentre os detidos também estava Carlos Itamar Pimenta. Ele aparece nos autos como o autor de processos contra a imprensa, que tinham o objetivo de criar obstáculos para divulgação de dados da Igreja. Ele também é denunciado por coagir testemunhas.
Para o advogado de Gedelti e Itamar, Fabrício Campos, as prisões foram ilegais. Os advogados dos demais presos não foram localizados. A prisão do pastor Arlínio de Oliveira Rocha foi substituída por prisão domiciliar por ele estar se recuperando de uma grave cirurgia, segundo aponta o juiz em sua decisão.
Os presos
Gedelti Victalino Teixeira Gueiros (preso)
É apontado como líder supremo da igreja, onde “manda e desmanda”, segundo a decisão judicial. Dono de vários imóveis, não cumpriu decisões da Justiça.
Amadeu Loureiro Lopes (preso)
Tido como mentor de artimanhas para se apropriar de recursos da igreja. Há indícios de sua participação no desvio de recursos do dízimo para o exterior
Carlos Itamar Coelho Pimenta (preso)
Participou de várias reuniões que visavam a coação de testemunhas e é apontado como braço jurídico da Igreja em “atos não condizentes com o Direito”
Antonio Angelo Pereira dos Santos (preso)
Ex-vice-presidente da Maranata, teria recebido recursos da igreja, inclusive em dólares, simulando prestação de serviços
Leonardo Meirelles de Alvarenga (preso)
Contador, apontado como recebedor de vultuosas quantias a pretexto de ajuda a irmãos no exterior, com infração a vários artigos do Código Penal.
Jarbas Duarte Filho (preso)
É uma dos pastores da Maranata apontados como recebedores de quantias em dinheiro, incluindo dólares e outras moedas, utilizadas de forma ilegal.
Wallace Rozetti (preso)
Tesoureiro do Presbitério de Vila Velha, é uma das pessoas que recebiam quantias em dinheiro, incluindo dólares e outras moedas
Antonio Carlos Peixoto (preso)
É uma dos pastores da Maranata apontados como recebedores de quantias em dinheiro, incluindo dólares e outras moedas, utilizadas de forma ilegal.
Antonio Carlos Rodrigues de Oliveira (preso)
Apontado como um recebedores de quantias em dinheiro, incluindo dólares e outras moedas, utilizadas de forma ilegal.
Arlínio de Oliveira Rocha (prisão domiciliar)
Apontado como um recebedores de quantias em dinheiro, incluindo dólares e outras moedas, utilizadas de forma ilegal.
Outros réus
Investigados
A denúncia contra eles foi aceita, mas vão responder ao processo criminal em liberdade
Mário Luiz de Moraes
Sérgio Carlos de Souza
Sob medida cautelar
Sujeitos a várias restrições, até a entrega do passaporte
José Eloy Scabelo
Ricardo Alvim M. Andrade
Daniel Amorim
Daniel Luiz Peter
Paulo Pinto
Cardoso Sobrinho
Wellington N. Silva
Urquisa Braga Neto
Fonte: A Gazeta